A invasão russa da Ucrânia continua sem dar tréguas.

No seguimento do amplo revisionismo histórico e reconhecimento político dos territórios separatistas — pretexto da “operação especial” — Putin, recorrendo a instrumentos democráticos, invoca agora o Artigo 51 da Carta das Nações Unidas com vista a justificar o inescusável: fazer a guerra sobre a pretensa defesa da paz. Tentando, à luz do direito internacional, legalizar a invasão e destruição da Ucrânia como forma de defender a autoproclamada Républica Popular de Donbass e terminar um conflito que a própria Rússia patrocinou.

A data 24 de Fevereiro de 2022 será recordada como o dia em que a Guerra Total, tal como descrita por Erich Ludendorff em 1935, ressuscitou de uma morte histórica para nos relembrar os horrores do Darwinismo Social associado às grandes guerras. É neste contexto de completo desrespeito pela soberania dos povos, das leis e regulamentações da guerra, e de uso irrestrito da violência, que Vladimir Putin almeja reescrever a história da Europa, redesenhando convenções, o sistema e a ordem internacional.

A guerra total hoje adoptada pela Federação Russa, em proveito de uma política de terra queimada, não se coaduna com formulações de guerras convencionais ou clássicas, onde o propósito lógico da guerra é, conforme afirmou Carl von Clausewitz, fazer com que o adversário cumpra com a vontade do outro. Historicamente, a tentativa de aniquilação de qualquer povo causa ressentimentos históricos intergeracionais com impactos profundos e duradouros que desafiam a reabilitação política e social dessa mesma nação.

A gramática táctica do exército russo pouco mudou desde 2008, pois continua a actuar linearmente em antecipação, deflecção, degradação e supressão de forças inimigas. No entanto a Rússia já não possui as qualidades do Exército Vermelho: treinado, preparado e fortemente doutrinado. Desde da queda da União Soviética, a reforma das forças armadas russas aparenta não ter sortido o efeito desejado. O exército da Federação Russa mobilizado para a guerra na Ucrânia apresenta evidentes deficiências de capacidades, especialmente no que diz respeito à incapacidade de manter e defender linhas de comunicação logísticas, executar operações conjuntas, projectando efeitos em multidomínios e assegurando a fortaleza de espírito e moral do combatente.

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Em meados do mês de Maio, a estratégia de Putin prova falhar em toda a linha: 1) não desmilitarizou, nem “desnazificou”, mas contribuiu fortemente para o rearmamento e modernização tecnológica das forças armadas Ucranianas; 2) argumentando que a Rússia e a Ucrânia eram um só povo, Putin e a sua guerra sem limites, ofereceu um valioso contributo para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da cultura política Ucraniana – fonte do espírito identitário de uma nação; 3) desejando neutralizar a NATO e o Ocidente, a estratégia de Putin é também responsável pelo reforço da segurança, defesa e solidariedade política da Aliança Atlântica.

Face a estes acontecimentos, a NATO assegura duas importantes funções nomeadamente, deter agressões russas além-fronteiras, com a potencial activação do Artigo V; e conter uma eventual crise sociopolítica em caso de colapso político, económico e social russo. Entre 28 e 30 de Junho em Madrid, assistiremos ao maior reforço colectivo do Conceito Estratégico da NATO muito influenciado pelos últimos 12 anos de projecção de ameaças híbridas e campanhas de desinformação atingindo o centro de gravidade do Ocidente, as suas Democracias.